Lembro-me de desfilar na Fanfarra dos Bombeiros do Fundão. Ia a imitar os bombos. Teria uns dez anos. E foi assim que surgiu a vontade de vestir a farda. O Hugo já lá andava. Em crianças sonhamos ser bombeiros e nós também quisemos. Sempre fomos amigos. Mas, se um dizia sim, o outro dizia não. Picávamo-nos um bocado, o que não impedia que fizéssemos juntos o caminho da escola até ao quartel. Os mais velhos diziam-nos: «um dia vão namorar». «Jamais» respondíamos com convicção, e seguimos vidas separadas. Investi na minha vida académica e o Hugo acabou por constituir família. Depois dele separar-se continuámos a trabalhar juntos no mesmo piquete. Estivemos algum tempo em negação. Mas temos gostos parecidos, somos muitos reinadios. Os nossos amigos dizem que só se estraga uma casa. É dessa forma que vivemos desde Maio de 2006. Num ninho feito por nós cheio de recordações e das experiências que tivemos até nascer a Margarida, em Dezembro de 2014. Penso que a chegada do Rodrigo à nossa vida nos ensinará a ver a paternidade de uma nova perspectiva.
Fevereiro de 2013, a Ana entrou no escritório onde exerço advocacia. Reparei na elegância dela ainda na sala de espera. Sentada ao lado do pai embrenhada no tablet. Às tantas surgiu-lhe uma questão do foro informático e pediu-me ajuda. Ela já confessou que foi só um pretexto para se meter comigo. No segundo seguinte já estávamos ligados pelo Facebook. Lembro-me de termos passado a noite toda a conversar através do Messenger. Na semana seguinte estávamos a namorar. Nada que impedisse a Ana de investir nos seus projectos pessoais. Partiu para Lisboa para tirar o curso de Literatura. Sempre foi uma ávida leitora. Mas não chegaria aos exames do ano lectivo de 2014-2015 porque engravidou do Daniel. Uma descoberta num fim-de-semana em casa. Só regressámos a Lisboa para esvaziar o apartamento. A partir daquele dia começámos a viver juntos. Nem sequer se concebeu um cenário diferente. Ainda a amamentar o Daniel viu-se grávida novamente e foi uma bela surpresa com ênfase na palavra “surpresa.” Como dizia John Lennon: “a vida acontece enquanto estamos a fazer planos.”
Chamo-me Zara que é o nome de uma moura encantada. O meu pai baptizou-me assim, como bênção depois de um parto traumatizante. O nome quer dizer luz e tem sido um escudo para me proteger das agruras da vida. Em Novembro de 2010, conheci aquele que é o meu príncipe de Monchique. Chama-se Luís e desceu as serranias para começarmos o nosso projecto a dois. Num mapa invisível tínhamos delineado pisar todas as capitais europeias. Paris foi o teste, já que depois dessa viagem decidimos partilhar o mesmo tecto. Visitámos ainda Madrid e quando nos preparávamos para conquistar o resto da Europa, fiquei grávida do Miguel, sem pré-aviso. Nos últimos três anos fui mãe a tempo inteiro e temo-nos dividido entre passeios pela serra e o mar. No ano passado fiquei grávida de novo. Desta vez do Dinis. Às 34 semanas foi-me detectada uma descida considerável do nível de líquido amniótico e tensão alta, o que acabou por acelerar o nascimento do bebé. O mais novo príncipe veio ao mundo num dia de sol. E sinto que os deuses lhe serão favoráveis.