Quando estive internada ajudei algumas mães a cuidar dos filhos. Umas eram mães de primeira viagem, outras tiveram bebés um pouco magrinhos. Houve muita entreajuda entre todas. Havia uma rapariga, a Andreia, que teve um menino chamado Afonso. Ajudei-a duas vezes a mudar a fralda ao filho e também na hora de amamentar, porque quando se deu a subida do leite ela começou a ficar com peito muito duro. Uma outra mãe, a Rita, quis dar água ao bebé no biberon e eu expliquei-lhe que isso não se fazia porque o leite materno tem tudo o que um bebé precisa.A Sónia teve um menino, o Martim que não queria mamar, ela estava mais frágil e começou a chorar. Acabei por lhe dar algum apoio. Não só o facto de ser mãe mas também bombeira faz com que o espírito de entreajuda esteja sempre presente em mim. Houve uma altura em que mal me levantava da cama e ainda estava bastante dorida do parto mas quis ajudar. É algo mais forte do que eu. Gosto muito de ajudar os outros.
Não. Não, não, não, não, não. Isto não está a acontecer. A mim, não! Estas coisas acontecem aos outros, comigo não. É difícil não nos acharmos especiais. Por mais que o repita sei a verdade e está a passar-se comigo. Infelizmente não sou imune a complicações. Não sou a supermulher. Diagnóstico: colestase gravídica. Que raio de nome! Sintomas: coceira. (o quê?!... Coceira??a sério?!) Isto não só parece um filme, como tem um péssimo argumento. Não consigo não ficar zangada. Na terça feira, dia 30 de Maio, com 33 semanas de gestação, foi-me diagnosticado um problema sério na gravidez. O meu fígado não consegue processar a bílis, que entra directamente para a corrente sanguínea. É grave. É necessário tratamento. Tem cura e a cura é não estar grávida. «A Ana vai ficar internada». Frase pequenina que fez desabar o meu mundinho perfeito. Nesse mundinho vive um ser que não apenas é perfeito como é a coisa mais minha que eu tenho. O pequeno Daniel. O meu, tão meu, menino mais lindo, Daniel. E vou ter de o deixar. Pela primeira vez desde que nasceu vou ficar sem ele. Ele que chegou há pouco tempo, mas é toda a minha vida e é muito, muito difícil largarmos a nossa vida. Num primeiro momento, é só nisto que consigo pensar. O problema, no entanto, é este meu outro bebé. E é com ela que tenho de me preocupar. É dela que tenho de cuidar. Ainda não a conheço, é certo, mas será tão real e tão meu quanto o meu Daniel. E já não falta muito.