A Margarida dorme melhor no colo do pai do que no meu. No meu tem sempre a tendência de procurar a maminha. Ele adormece-a muito bem e muito rapidamente. Ele canta para a ela. Se acontece ela conseguir adormece-la, visto o pijama e fico toda contente e vou descansar. Aproveito para dormir nem que seja meia ou um quarto de hora, o que já é muito bom.
Ana
No colo da Ana, a Margarida acha sempre que “é hora de jantar”. Eu canto para a Margarida. Canto sempre, como sabem, a mesma música que é o «Hey Jude» dos Beatles, o Daniel acompanha porque já sabe o refrão. Pelo menos a parte do lalalalalalala. A letra é fácil e ela aí costuma acompanhar. Acho que é pelo facto de não ser a mãe. E ela perceber que é para aquilo, que é para dormir. Caminho um bocadinho com ela ao colo e ela acaba por desistir. Acho que me estou a vingar porque como ela nasceu prematura e era muito pequenina eu tinha algum medo de lhe mexer. Tinha medo que ela se partisse. Quando adormece no meu colo, eu deixo-a ficar.
Por volta da altura do primeiro ano da Margarida introduzimos massa, arroz, ou seja, comida aos pedacinhos. Acabaram-se os purés. Ela gosta muito de massa e de arroz. Não é uma grande surpresa porque ela gosta muito de comer. Até a fruta que no início tinha de ser disfarçada com sopa. A fruta preferida continua a ser banana. Gosta muito de a comer aos pedacinhos e trincá-la, não gosta nada que se esmague e se faça um puré. O pai já lhe deu um bocadinho de gelado de morango, eu até fiquei um bocado chateada porque ela podia ter tido alguma reacção alérgica. Eu gosto de cumprir as directrizes da pediatra e ter alguma precaução com alimentos que possam causar alergia.
Passar um fim de semana fora é sempre maravilhoso, mesmo com toda a excitação e azáfama características de quem tem dois filhos pequenos. Os meus pais também foram e isso deixou-nos um pouco mais descontraídos, porque sabíamos que íamos ter ajuda. É bom passar algum tempo com o Daniel (pai) fora do cenário habitual, e com ajuda dá para ter alguns momentos a dois. Mas, para mim o mais excitante desse fim de semana foi a ida à piscina com os miúdos. Foi a primeira vez da Margarida e, apesar de alguma desconfiança inicial passados cinco minutos já estava toda alegre a bater os pezinhos. Foi lindo de se ver. O irmão, esse é um verdadeiro peixe na água e o nosso maior problema é tirá-lo de lá. Já estou a ver a Margarida daqui a uns tempos também a fazer uma grande birra porque há-de querer ficar a chapinhar na água. Têm a quem sair. Tanto eu com o pai parecemos uns miúdos na água, de tão contentes. Vamos repetir a experiência, mas desta vez não nos vamos esquecer da bóia da Margarida.
Faço uma sopa muito docinha. Coloco cenoura, muita abóbora, batata doce tudo muito cor-de-laranja e penso que isso influencia a tom de pele da Margarida. Deixou de ser branquinha e passou a estar mais corada. Com o Daniel passou-se exactamente a mesma coisa, com a introdução da sopa ganhou um tom mais rosadinho. Se calhar terá também a ver com o facto de, de um momento para o outro deixarem a redoma e irem mais vezes à rua.
Ando a treinar uma nova brincadeira com a Margarida, que é pousá-la no chão, pôr uma coisa à frente e esperar que ela chegue lá, não dá muito trabalho. Aproveito para fazê-lo em alturas em que Ana está a tomar banho a ver se a distraio e ela não desata num pranto. Se bem que há ocasiões em que ela chora, deitada de barriga para baixo, para cima, de lado ou aos saltos. Curiosamente ela tem andado a acalmar e até a adormecer à base de serenatas. Ela gosta muito do «Hey Jude» dos Beatles. Da última vez a Margarida cantou comigo. Se eu parar de cantar, ela também pára. A Ana já tentou filmar, mas eu não deixei, só com câmaras ocultas e estando eu muito distraído. E depois claro com um excelente Auto tune .
Apesar de ser um bebé, a Margarida já revela o seu geniozinho. Tem um bocadinho mau feitio, ou seja, não tem muita paciência. Não lhe podemos tirar um boneco que começa logo aos gritos. E se lhe tirarmos o sapato, que ela adora morder, pior ainda. A Margarida é impaciente e isso nota-se quando lhe estamos a dar a sopa ou a papa. Porque ela quer tudo e de forma muito rápida. Se calhar é uma característica dos bebés que gostam de comida e de comer bem.
Ana
Quando se põe a puxar os cabelos à mãe, olhamos para a cara da Margarida e vê-se que ela não está a fazer aquilo por brincadeira. Ela sabe o que está a fazer e até morde as gengivas. Fica muito nervosa e parece que gosta bastante e nisso tem alguma ruindade.
Ultimamente, como o Daniel chega mais tarde do escritório, estou encarregue dos assados no forno. Confesso que o Daniel me dá uma ajuda preciosa. Envia-me mensagens com os passos a seguir e eu passo à execução. Tirando a falta de sal, ele não se queixa do resultado final. Até porque está provado que sem sal a comida é bastante mais saudável.
Apesar de maternodependente, a Margarida nos últimos dias estica os braços na minha direcção. E como tem passado mais tempo no meu colo, eu aproveito para lhe dar beijos.
À noite a Margarida é muito inconstante. Quando «o rei faz anos» mama uma vez e dorme a noite toda, umas cinco, seis horas seguidas. É a excepção. Nos outros dias de duas em duas horas quer maminha. Esta serve como chupeta, não porque esteja com fome, mas porque não gosta de chucha e usa a mama como objecto de conforto. Acorda, quer mama e claro calha-me a mim. Sou que me levanto e pego nela. Muitas vezes sinto que toda a noite acordada, não consigo adormecer logo a seguir, porque não tenho um interruptor. Tenho aproveitado para dormir a manhã na cama, porque ela também gosta de dormir de manhã.
Fui eu que dei a primeira refeição à Margarida, quando ainda estava na incubadora em neonatologia. Como a mãe não podia dar de mamar, deu o pai, salvo seja. A enfermeira tirou-a da incubadora, pô-la no meu colo e eu como se estivesse a segurar numa cristaleira da Vista Alegre, com muito receio, lá lhe dei o primeiro biberon. Ela era mesmo muito pequenina. A primeira sopa foi a mãe que deu. A primeira sopa que ela comeu comigo já estava habituadíssima, por isso foi mais novidade para mim do que para ela. Ela come mesmo muito bem. Para a sopa é mais ou menos como o irmão. Não é um bebé complicado, agora a fruta… é que «se a agitarmos muito, ela vomita». Acho que a questão é não gostar de alimentos frios.