Como bom algarvio que sou, defendo que esta região é propícia para ter bebés e para todas as famílias já com meninos pequeninos. Ao longo do ano o clima é ameno e temos muito espaço, luz e água. Nós gostamos muito do mar e costumamos passear na zona de Alvor. A praia faz parte da nossa vida, apesar de ter nascido em Monchique. Estou dividido entre a serra e o mar. Quer Portimão, quer Monchique são dois locais incríveis para descobrir. Na serra ficam as Caldas de Monchique e a Fóia que é o ponto mais alto a sul do Tejo. Sabe bem ir lá a cima e respirar o ar puro debruçados sobre a costa algarvia. É algo que dá energia, transmite paz e serenidade. Outra das vantagens que encontro é a qualidade de vida. Não há excesso de poluição, trânsito e essas confusões características dos grandes centros urbanos. Mas, nem tudo é um mar de rosas: há mais desemprego e o custo de vida é mais elevado, visto estarmos numa zona turística. E “pagamos” por isso. Mas temos que nos focar naquilo que é bom. E apesar de fazer todos os dias Portimão/Monchique não sinto aquele stresse de ter que cumprir horários.
Estava sossegada em casa dedicada e apaixonada pelo meu filho Daniel, quando descobri que tinha um novo ser a crescer dentro de mim. Estava a fazer tudo direitinho – a toma da pílula da amamentação – sempre à mesma hora, sem nunca me esquecer – portanto não podia estar grávida. Fiz umas pesquisas sobre falsos positivos e sobre testes de gravidez pouco fiáveis. Quando tive a certeza chorei muito. Não porque não quisesse este bebé (isso nunca me passou pela cabeça), mas o meu menino era muito pequeno – tinha nove meses – ainda precisava de muita atenção. Ao meu colo o tempo inteiro tinha um bebé que dependia de mim para tudo, inclusivamente para alimentar-se. De repente estava grávida da Margarida. Fui invadida por uma colecção de sentimentos. Fiquei incrédula, desesperada, emocionada, contente e emocionada de novo. Das duas vezes que soube custou-me imenso a acreditar. Comprei o teste em segredo. Se relativamente ao primeiro filho havia uma parte de mim que dizia: “ok, eu acho que estás grávida”, da segunda vez, não, não. Para o Daniel (pai) foi uma alegria. O que me ajudou imenso a digerir a coisa. No dia seguinte ainda céptica ou apenas teimosa, fiz outro teste. Novamente positivo. E pronto vinha aí outro bebé.
Lembro-me de desfilar na Fanfarra dos Bombeiros do Fundão. Ia a imitar os bombos. Teria uns dez anos. E foi assim que surgiu a vontade de vestir a farda. O Hugo já lá andava. Em crianças sonhamos ser bombeiros e nós também quisemos. Sempre fomos amigos. Mas, se um dizia sim, o outro dizia não. Picávamo-nos um bocado, o que não impedia que fizéssemos juntos o caminho da escola até ao quartel. Os mais velhos diziam-nos: «um dia vão namorar». «Jamais» respondíamos com convicção, e seguimos vidas separadas. Investi na minha vida académica e o Hugo acabou por constituir família. Depois dele separar-se continuámos a trabalhar juntos no mesmo piquete. Estivemos algum tempo em negação. Mas temos gostos parecidos, somos muitos reinadios. Os nossos amigos dizem que só se estraga uma casa. É dessa forma que vivemos desde Maio de 2006. Num ninho feito por nós cheio de recordações e das experiências que tivemos até nascer a Margarida, em Dezembro de 2014. Penso que a chegada do Rodrigo à nossa vida nos ensinará a ver a paternidade de uma nova perspectiva.